21 de julho de 2011

REDUÇÃO DAS POPULAÇÕES MARINHAS

     A pesca oferece à humanidade um alimento rico em proteínas. Além disso, os peixes constituem um recurso natural renovável: eles se reproduzem e dão origem a novos peixes. Ao contrário do petróleo, por exemplo, que é um recurso natural não renovável, ou seja, não pode ser recomposto na natureza e, mais cedo ou mais tarde, vai acabar.
     No entanto, recursos renováveis também podem acabar. Ao serem consumidos em uma velocidade maior do que a de sua reposição natural, eles vão se reduzindo até chegar ao fim.

As populações de algumas espécies marinhas vêm diminuindo:

     É exatamente isso o que vem ocorrendo com algumas espécies de peixes e outros animais marinhos usados como alimento pelo ser humano. Nos últimos cinquenta anos, a pesca excessiva reduziu em 90% a população dos grandes peixes, como o atum, o arenque, o peixe-espada, o salmão, o hadoque, o esturjão, a cavala e o bacalhau. Houve redução também entre os crustáceos comestíveis, como o camarão e a lagosta. Estima-se que cerca de um terço das espécies marinhas encontra-se ameaçada de extinção. Essa ameaça deve-se, principalmente, à eficiência da pesca em escala industrial, que utiliza grandes navios pesqueiros capazes de locali­zar os cardumes por satélite ou sonar, e de fazer a captura com imensas redes de arrasto. Essas redes, que são puxadas junto ao fundo do mar, acabam arrastando também moluscos, crustáceos e peixes pequenos demais para o comércio, que, em sua maioria, morrem esmagados na própria rede ou no convés dos barcos, muito antes de serem devolvidos ao mar.

Oásis marinhos:

     Não devemos nos iludir com a vastidão dos oceanos. É verdade que eles cobrem cerca de 70% da superfície da Terra. No entanto, longe da costa, os sais minerais tendem a se depositar no fundo, onde não há luz. Sem os sais minerais, a fotossíntese diminui, diminuindo também a população de algas que sustentam a cadeia alimentar e, conseqüentemente, a população de peixes e de outros animais. Por isso, a maioria das espécies situa-se próxima às regiões costeiras. Elas podem ser encontradas também, em grande quantidade, nas regiões em que correntes marítimas levam os sais minerais do fundo para a superfície iluminada: é o fenômeno conhecido como ressurgência, que aumenta o número de algas e, em conseqüência, o de peixes.

    




     O resultado é que, apesar de toda a sua imensa área, os seres aquáticos estão concentrados em um número relativamente pequeno de "oásis". A pesca também se concentra nessas regiões, o que aumenta o risco de extinção das espécies. O problema não afeta apenas os que vivem da pesca e os seres humanos que consomem peixes, mas toda a cadeia alimentar.
     Os grandes peixes são predadores que estão no topo das cadeias alimentares. Por isso, sua extinção pode provocar desequilíbrios em toda a cadeia. Em um rio da Califórnia, por exemplo, observou-se que peixes do topo da cadeia alimentar, como as trutas, comiam libélulas, que, por sua vez, ingeriam um tipo de mosquito que se alimentava de algas. Os pesquisadores removeram então boa parte das trutas e observaram que a população de libélulas aumentou. Com isso, a população de mosquitos diminuiu e a de algas aumentou, a ponto de cobrir a superfície dos rios e provocar desequilíbrios ecológicos. Outro exemplo de desequilíbrio foi observado no Atlântico Norte, onde a pesca do bacalhau provocou o aumento da população de ouriços-do-mar, que destruíram as algas do fundo.
     E, ao contrário do que imaginamos, nem sempre a criação de peixes é a solução para desequilíbrios. Em artigo na revista Scientific American Brasil, Daniel Pauly e Reg Watson comentam que, embora muitos acreditem que criações de peixes possam ajudar a manter os estoques naturais, isso só acontece se os peixes criados não forem alimentados com produtos do mar. Mas a criação de peixes carnívoros, como o salmão, por exemplo, é feita com ração produzida de peixes e outros seres marinhos e, por isso, criações de salmão consomem mais peixes do que produzem.



Fernando Gewandsznajder

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