Em princípios do século passado um general francês avançava com suas tropas sobre todos os países da Europa, até Moscou. Era um gênio militar e tendo que movimentar soldados à noite, para facilitar isso, mandou pintar de branco as árvores marginais das estradas.
Depois, enquanto não surgiram as poderosas lanternas dos veículos modernos, todos reconheciam as vantagens e praticavam a pintura branca com fins específicos e úteis: facilitar a locomoção à noite. Até hoje, mesmo com os faróis dos veículos, há curvas com rochedos perigosos que devem ser, excepcionalmente, pintados de branco.
Mais tarde, provavelmente na Europa, que era relativamente atrasada no século passado, alguns prefeitos devem ter aproveitado a idéia da caiação para mostrar serviço, pintando as árvores de suas cidades. Costume que hoje, lá, não existe mais. Algum brasileiro imitador trouxe para o nosso país o negativo costume. Aqui, prefeitos de cidades grandes e pequenas, querendo dar demonstração de boa administração, correm para fazer este trabalho facílimo. Contratam três operários e, se a cidade for pequena, em pouco tempo deixam-na branquíssima. Com os prefeitos, cooperam os secretários de turismo. Geralmente o turismo é complementado na base da tinta branca.
Alguns alegam que é para apresentar aspecto de limpeza. Só aspecto, porque limpeza só existe na natureza pura ou quando é praticada uma eficiente remoção do lixo. As árvores não são sujas.
Os praticantes dessas pinturas revelam que o homem tem instinto de derrubar e submeter a Natureza. Na realidade, o que se quer é estabelecer a evidência do domínio do homem sobre a natureza, se está isolando as pessoas do ambiente natural. As árvores estarão só em cima, para nos fazer sombra, isto quando não forem podadas. Embaixo podemos circular sem vê-las. Apenas notaremos uns postes brancos.
Na realidade, muitas vezes, também temos que aceitar a interpretação de que a caiação do tronco das árvores sirva para encobrir a preguiça e a incompetência de administradores e capatazes. Incapazes de fazer serviços realmente necessários em suas cidades, com facilidade e rapidez, mostram o que parece ser uma boa obra aos incautos munícipes.
Geralmente os pintores argumentam que a pintura serve para afugentar e matar formigas. Isso é contrário ao bom senso. A cal não tem efeito algum sobre os insetos, a não ser no momento em que o pincel está molhado, quando a formiga tem que esperar o secamento ou então morrer afogada.
Entretanto se pode admitir que, em casos excepcionais, principalmente na infestação de pragas, é possível que uma borrifação de cal, com praguicidas, geralmente nas folhas, traga efeitos positivos e vantagens ao proprietário da árvore. Isso é outra coisa, mas os pintores vêm argumentando com o motivo das infestações, mas só pintam os troncos, e também as pedras das praças.
Quando numa praça ou rua há espécies diferentes de árvores (figueiras, capororocas, eucaliptos, ligustros, tipuanas, jacarandás, flamboyants, extremosas, etc.), estando todas elas pintadas, as crianças e os adultos ignorantes não distinguirão uma espécie da outra. Na realidade, excelentíssimos senhores prefeitos e secretários de turismo demonstram que são pessoas alienadas da Natureza e estão procurando enfeitar as árvores, até mesmo sujando-as. Na realidade, eles querem artificializar as árvores. Estão praticando uma maldade com as árvores e com a conscientização das crianças.
Reconhecemos que, praticamente, uma pintura a cal não traz maiores prejuízos à saúde das árvores. A poda é muito pior. Entretanto, no lugar pintado, morrem os liquens que porventura existam nas cascas das árvores. Se forem pintadas a óleo, haverá um asfixiamento que só não mata a árvore porque a pintura é parcial e não é permanente.
A árvore é um ente vivo. Não é um móvel de madeira, nem um poste. Pintar uma árvore é tentar matá-la um pouco. É querer fazer esquecer que a árvore também é vida. Um dos exemplos mais gritantes e infelizes era o da nossa cidade lagunar de São Lourenço do Sul. Evidenciava-se ali o turismo da cal, não obstante a natureza privilegiada e porque sendo arborização com nativas, assim mesmo embelezam a cidade.
Infelizmente este costume triste sem nenhuma justificação ou defesa, está difundido entre todos os ignorantes e insensíveis, e regularmente vemos o espetáculo deprimente nos lugares mais inesperados e impróprios. As pessoas conscientes que lerem este trabalho que nos ajudem, combatendo-o, condenando-o e até impedindo-o, pois a Ecologia, além de todas as poluições, ainda tem mais este problema a enfrentar.
Para finalizar, menciono as palavras do Prof. Luís Galvão, da UFM, publicadas no Correio Rural do Correio do Povo, 07-05-82. Ele diz que a arborização de certas cidades do Rio Grande do Sul parece caso patológico e que, olhando certas praças, o espetáculo chega a ser cômico. E explica o porquê, mencionando até a poda, mas no final (palavras dele) nos convida e diz: “Vamos nos sentar neste banco e refletir... Causa-nos estranheza e até espanto a constante utilização da caiação no terço inferior do tronco das árvores.
Buscamos explicações lógicas para esse comportamento, mas não encontramos. Entendemos o calor da cor branca, sua luminosidade e inspiração, porém confirmamos o propósito de que a alteração de um elemento natural vivo não passa da mais crassa ignorância. Não se vestem meias colegiais em árvores, nem se transformam arenitos ou granitos em mármores alvos, especialmente na ocasião da visita de comandantes militares, governadores ou presidentes”.
Augusto César Cunha Carneiro
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